quinta-feira, 28 de julho de 2011

Título: Verdadeiramente Lambendo a Merda

Quando entregara seu cartão de credito para debito automático no caixa havia dois funcionários por detrás do balcão separado por vidros, que enquanto moviam as mãos em seu ofício conversavam sobre o que fariam mais tarde quando saíssem dali. Disseram que iria a boate Divini que fica no centro, logo não perderia a apresentação de uma cantora ou dubladora batedora de cabelo, cuja diversão era garantida e ouvindo suas vozes cada uma muito afeminada pensou que talvez nunca seus pés sintam aquele lugar, principalmente devido alguns vizinhos seu freqüentarem o ambiente, vizinhos que se importam com a vida dos outros, que inventariam coisas a seu respeito. Fato comprovado quando uma vez as cinco e quarenta da manhã depois que sair do Orbita Bar sozinho, quando procurava um motel barato, depois de encontrar um rapaz que estava falando num telefone público perto da avenida abolição, na Praia de Iracema, próximo ao Pão de Açúcar parou próximo da Divini para que o rapaz que morava no Mucuripe e que fora expulso de casa por seus pais ás duas da madrugada depois de brigar com os pais, mas que não lhe fora contado o motivo; agora compraria fósforo pros cigarros dado por Ele que se emocionara com a voz de dor do negro, uma carteira negra que há meses guardava dentro da bolsa e que nunca ascendera, sem coragem, imaginando as palavras de um amigo distante ciente da auto-aniquilação quando alguém lhe aconselhava que parasse de baforar fumaça, dizia: futuramente vários tumores se formaram em meu interior, eu tive aulas de biologia, tenho consciência disso. E que agora fora doado ao rapaz expulso e recolhido no carro dele parado na Rua da Divini que viu e fora visto pelos vizinhos. Quando se reconheceram e arregalaram os olhos e as palavras que leu de seus orbitais foram, bem que desconfiava dele. Ele que estava caminhando continuou, como se estivesse apenas passando, afinal os vizinhos apenas lhe vira passar pela rua, e com certeza na boate eles não o viu, como também nesse momento estava só deu uma volta no quarteirão até retornar o carro e finalmente, depois do outro ter conseguido a caixa de fósforos entraram no motel. O sexo fora ruim, muito rápido, talvez um dos piores. 

Ao sair dali, fora a pé até o estacionamento em que deixara o carro preto. O pagamento já havia sido feito, apenas um comprovante fora apresentado e devido à lotação apenas consegui tirar de ré o que lhe fez se arrepender logo depois, pois quando fez a manobra não viu uma placa vindo o carro bater a traseira, droga, droga ... Mas não tinha amassado, quicá arranhado, menos mau! Ele seguiu a rua pro lado leste que dava numa outra que cruzava, era da mesma largura de mão única pro sul, ele pára e acelera virando a direita vindo a subir por essa que era um alto não muito íngreme.

Quando Ele pára num ponto para entrar a esquerda logo pegaria a Avenida Monsenhor Tabosa viu quatro rapazes cada um com uma bolsa de viajem e reconhece-os de uma clínica odontológica quando foram se consultar para colocarem aparelho nos dente, eram marinheiros - e um deles, um moreno fino de calça jeans escuro, ficou lhe encarando nos olhos, enquanto os outros que estavam mais em baixo gritara seu nome, chamando-o, ele se virou quando olhou que Ele o motorista subira o vidro escuro e virara pra direita, ele que acabara de sair do estacionamento lotado acelerou seguindo logo depois pro centro a procura de sexo, o mais oco como os ecos que se formaram pelo íngreme da escada dúctea onde apenas uma voz diáfana e ao mesmo tempo humanizada pelo violão malandro que chorando disse ser do homem a dor. E sem deixar muito de lado a dor nele presente passa e repassara pela rua onde eles ficam os Garotos, alguns muitos feios, outros nem tanto, poucos, muito poucos que não enche esquinas. Ele sente receio de parar, ele vai e volta pela mesma rua. Ele os vê – pelo correr das rodas se perguntam entre si quem é, que é... Nas esquinas algumas travestis muito altas meio homem e mulher, caricatas cada um com seu âmago e casca una pintadas, cada uma delas maneado o quadril fazem expressões como se tivessem gozando. Ele passa por mais uma esquina na rua desértica, na rua sem luz, na rua sem importância.

À medida que vai contando nesse momento que conseguira sobre o que lhe aconteceu algumas vozes se misturam aos fatos. Alguns sonos indizíveis, diálogos distantes por sua introspecção pelas lembras dessa noite de sexo comprado, algumas imagens em silhueta do seu lado querendo se mistura a borra escura das letras, são as pessoas próximas dele, no trabalho dele ao seu lado conversando, sem desconfiar do que ele tanto escreve, sem desconfiar do que ele é capaz de fazer a noite, escondido, correndo risco de um bandido vim e abordar, quando pelo desespero de se encontrar gigantescamente sozinho no mundo vai provar da poeira das ruas à noite, vai  pra sentir o seu pior. Ele que tem consciência do seu pior. Ele que se sente sórdido. Ele que deixará sua pompa inventada e sua máscara de bom rapaz. A mãe ligou pra saber onde estava, estou bem, disse, estou com amigos, fica aqui no Benfica, conversando apenas.

Desliga o celular e pára na esquina tímido e com medo. Observa os rapazes, são três e logo um dele o que estava de blusa azul gola pólo vem à porta quando um aceno é feito. Aproxima-se do carro. O coração dispara e pergunta como funciona pro rapaz em pé, a voz quase sem sair, preparado pra pisar caso algo ocorra. Mas nada acontece, tudo está tão silencioso quando os cantos escuros por onde pouca luz incide, por onde os vivos se escondem, lembrando com sua pele branca a perversidade dos vampiros. Há na maldade um cheiro que aos poucos lhe enleou, um que fez o rapaz de gola polo entrar e fechar a porta do carro, um que entorpeceu seu âmago débil, como se sua dignidade não valesse, mas que a consciência fosse apenas depois, muito depois, emergir como demônio da pista negra, o que diz o quanto fora fraco se deixando, se jogando, se lançando...

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