quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"olhe aqueles caras tentaram nos assaltar, nos esculhambou, disse que iriam meter no nosso cu"


Tenho a impressão que o terminal de ônibus do (...) guarda todo aquele som abjeto de infernais monstros, sons que se transformam numa película transparente, todos os gases venenosos aspirados lentamente com o negro da poeira obscena minuto a minuto de toda a metrópole, levados para esse espaço endêmico, por todas as pessoas da cidade em caixas metálicas com rodas esborrachadas com chaminés múltiplas lançado nessa redoma o gás venenoso. Centenas de motores torpes com centenas de gente e por essa multiplicidade centenar passamos um ou duas vezes ao dias apesar de lá já ter membros do município responsáveis pela segurança. Percorremos de um lado para o outro com nossas faces sérias translúcidas pelo vidro do carro fechado em virtude do elevado calor expelido da terra as 15 da tarde.


Mas as 21:45min, pouco antes de deixarmos a área e voltarmos ao local onde o turno da noite irá pegar viatura, armas, munições, passamos novamente no dito terminal e ao sair vimos numa rua escura, com muitos postes, mas suas luzes estavam quebradas acredito que por usuários de craque, é um lugar desértico e o seu espaço eremitério convida muitos daquela região para o fumo da pedra, que como em outras escritas feitas por mim denominei-a de maligna. Vejo de perto a devassidão que a tal droga alucinógena faz.

                                              Terminal de ônibus.

Assim que saímos da pista e fugimos dos muros que cobrem a estação vimos dois homens que vinham nos olhando assustados, eles caminhavam, passadas rápidas por nós enquanto um grupo de três pessoas ao longe nos chamava, aceleramos e chegando lá nos é dito que aqueles homens tentaram lhes roubar, os dois com olhares assustados. Os que gritavam eram travestis que moravam numa favelinha perto dali e iam pra casa. Uma mais velha dizia, “olhe aqueles caras tentaram nos assaltar, nos esculhambou, disse que iriam meter no nosso cu.” Demos rapidamente a volta e conseguimos pegar um, que por sinal estava bêbado, fizemos a abordagem e nada tinha com ele. Mas eu inspirei a raiva e a dor que aqueles travesti sentiram quando nos disseram que os mesmo derramaram sua água mineral e jogaram em suas faces pintadas. Não me contive e durantes as perguntas feitas ao homem ébrio gritei e senti extrema vontade de lhe da um tapão na orelha.  Mas me controlei e comovido com aqueles seres efeminados esquecido e perseguidos e que tanto tenho em comum e que tanto admiro e que tanto sei o qual verdadeiros são - O que são? Corajosas, mas que eu próprio que me entrego a essa associação de pactos fracos e máscaras frívolas da sociedade. São dignas!

À noite sonhei sendo apedrejado por várias pessoas e reconheci aquele que com a mão pequena um minério sólido jogara em minha direção, encontrando a pele de minha testa, trazendo a dor e o sangue, reconheci o rosto cheio de pêlos ruivos com os pômulos sardentos, esse homem homofóbico, ladrão e ébrio que escapara por entre aquelas centenas em fila esperando caixas metálicas lançadores de gás venenoso. 

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