sábado, 12 de março de 2011

Calafrios de uma ladra



Basquiat





Verão – Adagio; Presto têm 2min5seg de duração e fora essa música que escutei a caminha da CIA. Apesar da ciência sobre o feriado de carnaval adentrei com meu carro azul escuro por sobre a avenida leste-oeste semidesértica sem percebê-lo de imediato, aí me venho à mente por um segundo “as pessoas que preenchem esses caminhos estão no interior” e eu que amanhecera com o estômago afetado por um prurido peristáltico pus a escutar Vivaldi enleado de luz branca e quente da tarde pelos espaços fechados do carro, janelas envidraçadas e nenhum vento.

Mas a frente quando o álbum da sinfonia já tocava outras canções  ou estações como é intitulada a sinfonia que se materializou em meus ouvidos por ondas limpas de uma orquestra entusiasmada cheguei à rendição.

Pelas 18h00min quando me lembrava de Basquiat logo que vi pela manhã algumas obras suas pela internet e sonhava em algum dia ao vivo apreciar sua pintura uma senhora com mais de 60 anos, loira, fútil e dona de uma fazendo em Mossoró que provavelmente nunca ouvi falar em Basquiat pede que nós fossemos ao seu rico apartamento logo que descobrira que sua empregada de 28 anos mãe de um filho de 11 anos estava lhe furtando.

A senhora há um ano que nota desaparecer algum dinheiro, entretanto se justificava ao dizer que era sua memória falhando, esquecimentos. Mas depois de conversar com seu filho mais velho sobre seus esquecimentos e também vitima de uma empregada que roubara um anel de brilhantes de sua esposa, ele lhe convenceu de que a mãe deveria marcar duas notas de cinqüenta reais pela noite e assim fez. Pela tarde desse dia quando fora olhar apenas uma estava dentro sua carteira. Imediatamente a senhora mandou que a empregada fosse pagar umas contas para que a ela sozinha fosse olhar no quarto da até então suposta ladra. Remexendo as gavetas e bolsa percebeu que o dinheiro não estava lá, entretanto foi achado filmes em DVD novos de seus netos e seus, filmes muito ruins por sinal um deles esse ano concorreu ao prêmio de pior película, ela disse não acredito "até o filme do crepusculo ela furtou," algumas roupas da senhora e duas jóias no valor de cinco mil reais feitas dada por esse seu filho mais velho joalheiro no dia de seu sexagésimo aniversário.

Ainda consigo relembrar os gritos que a empregada escutara quando fora recebida na cozinha por nós, a senhora e o filho mais velho. Esse estava com raiva e sôo altas acusações. A ladra começou a tremer e quase não consegue falar. Durante todo o procedimento chorou por não ter ninguém da família aqui, todos estavam no interior do estado, de conhecido apenas uma amiga. A senhora com mais de sessenta anos por mais de uma vez se perguntara e nos perguntara se deveria aquiescer com o processo logo que tinha pena da mulher que durante tanto tempo fora tão esmera na limpeza de sua casa e na forma como lhe tratava e aos seus. Sempre tão carinhosa e discreta. E como disse Ulisses em Aprendizagem ou Livros dos prazeres de Clarice Lispector “a realidade é que é inacreditável.” Como todos na delegacia notavam o desespero que a ladra tomava um policial civil muito espirituoso fora conversar.

Mulher porque tu fizeste isso?

Não sei moço. Não sei o que me deu. Lágrimas rolam mais intensas.

Ele lhe olha e fala suave: Mulher eles eram bons contigo? A senhora? O filho dela? Perguntou compassado e baixo o espirituoso.

Sim senhor, eram sim, muito bons.

Mulher não faz mais isso. Tá? Não faz isso de novo.

Hurum!

E não fica chorando assim. Cabeça pra cima, porque quando você chegar à sela elas, as outras presas vão te fazer de escrava.

E eu vou ser presa?

Vai. Disse e se foi o simpático espirituoso.


Mas uma fora pra captura e a noite de madrugada quando cheguei pra dormir pedi a Deus que lhe confortasse. Hoje ainda me pergunto E sim senhores leitores me importo com aquela ladra que parecia ter calafrios durante o tempo em que fiquei lhe vigiando de medo, de vergonha, de desespero.

4 comentários:

Fernando Imaregna disse...

Olá amigo...
Estou retribuindo a visita ao "Irmão das Estrelas" e agradecendo o comentário...

Procuro imprimir um lado espiritualista ao meu cantinho, para mantermos a harmonia do BEM ao nosso lado...

Gostei do que li aqui, e estou seguindo...

Um forte abraço e um abençoado fim de semana para ti

Elaine Crespo disse...

Olá Amigo! Realmente é de lamentar a experiência que faz você ficar entre dois polos. A de policial e de ser humano dotado de sentimentos. Não é fácil julgar e a lei tem que ser cumprida e quem a desobedece punido. Não queria estar no seu lugar!Você tem um conhecimento profundo de artes em geral. Vai de Vivaldi à Basquiat e depois a minha adorada Clarice lispector. Muito me envaidece um elogio de tal culto amigo! Agora vou te deixar com um quote de Clarice Lispector e te desejando um lindo fim de semana! Meus beijos!:D "A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano." Clarice Lispectro. Elaine Crespo P.S.:Estou sem o ENTER por isto tão mal redigido o comentário(risos)

Marília Felix disse...

Olá! Passando aqui para agradecr sua calorosa visita em meu espaço. É muito saber que as pessoas gostam do que escrevemos. Eu gostei daqui, do que vi e mais ainda do que li. Obrigada pelo carinho!
Me aguarde também aqui.
Abraço.

Gomorra disse...

De fato, a realidade é que é inacrediável!

Caramva, este trabalho que tu realizas realmente é aterrador... Não sei se eu suportaria tantos dramas, tanto desespero...

Deus meu, para que rouvar até mesmo o DVD de "Crepúsculo"?! Para quê?!

O mundo, meu Deus, o mundo...

E este livro que citaste é um dos meus favoritos, sempre e sempre!

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